Talvez eu esteja pronta

            Talvez eu esteja pronta a acreditar que é preciso acreditar, que a vida é uma paixão a se realizar, que a felicidade não é uma ilusão. Talvez eu esteja pronta a acreditar que para todo fim há um recomeço, que nem todos os bueiros são vãos, que nem toda realidade é chão. Talvez eu esteja pronta a acreditar que para o viver há algum sentido, que para amar basta ceder, que para sentir basta se ser. Talvez eu esteja pronta a acreditar que segredos não devem ficar na solidão, que a infância é a cura à doença, que o tempo ido é reconstrução. Talvez eu esteja pronta a acreditar que sou capaz de acreditar, que o sentimento mais claro tem escuros, que no coração está o pensar. Talvez eu esteja pronta a acreditar que um bom choro é um consolo, que a dor sabe aliviar, que o sonho veio para ficar. Talvez eu esteja pronta a acreditar que a liberdade é a mais segura algema, que o essencial habita o longe dos olhos, que a vida não custa porque se vale. Mais. Muito mais. Talvez eu esteja pronta a acreditar que o aparente é o devaneio, que o erro é a chave do perdão, que o imperfeito é a perfeição. Talvez eu esteja pronta a acreditar que o destino se aceita com a trégua, que o agora é o único momento, que o bem se faz fora da obrigação. Talvez eu esteja pronta a acreditar que a verdade são todas as mentiras, que o maior mundo gira na cabeça, que o silêncio, às palavras, é libertação. Talvez eu esteja pronta a acreditar que há catapultas no que digo, que do medo brota a fé e do caos, compreensão. Talvez eu esteja pronta a acreditar que amar não é limitação, que ter poder é se igualar, que se entregar é aceitação. Talvez eu esteja pronta a acreditar que acreditar é somente aceitar a minha própria transformação.

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