Achar-se e deixar-se

Fui muitas, sou tantas, nem sei. Se me perguntarem um número certo de mim mesma, digo que sou uma variável sem exatidão. Já fui, x, y, z, incógnitas infinitas, nem dá pra mais pra saber. Viver é se mover. Dentro mesmo de você. Não há quem não mude. Nem que seja um tiquinho. Nos olhamos no espelho. Não sou mais aquela. O rosto, ok, não mudou tanto, ainda. Mas a alma, ixi, essa aí… um estado em ebulição. Já pensei ser tantas coisas. Já fui tantas de mim. Já passei por tantos empregos, tantos cargos, tantas profissões. São só palavras que nos denominam temporariamente. Somos filhas, mães, amigas, mulheres, crianças, professoras, escritoras, amantes, traidoras, sedutoras, vai saber quantos substantivos mais. Bons, ruins. Tudo e tanto. Somos assim. Então, não se martirize. Crescer é ser uma folha na mudança da estação. Era verde, foi amarela, avermelhou-se e, depois, caiu no chão. Mas nunca deixou de ser a folha. Sempre a folha. Vai mudar, vai te levar. Tudo vai aos poucos nos envernizando, se deitando em camadas sobre nós. Então, viva sua vida respeitando o tempo das transições, a fase dos sentimentos sem rumo, a sensação de que não sabe para onde ir, se fica, se dorme, se levanta. É normal. É ok. É viver. Não se reconhecer também faz parte do crescer.

Crédito da foto: Jonas Jacobsson.

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