Afeto: o ao redor aberto

            Há uma infância em mim que não quer se perder. Que está sempre à tona, à frente das minhas vontades… Eu não quero crescer porque não quero deixar de ver. O essencial. O genuíno. As crianças sabem o que é bom, o que faz bem, o que é fundamental… E fundamental é carinho de vó, é cafuné de mãe, é ter um pai para nos pôr na cama e nos contar histórias de heróis que são apenas gente como nós… Fundamental é ter amigos, uma família doce, pessoas dispostas a nos amar por quem somos. Fundamental é um coração bom…

            E o que são valores hoje em dia? Valores tornaram-se preços. Mas preços não são valores. Valores não são precificáveis porque são gratuitos. Valores são coisas como afetos, que valem o que não vale qualquer outra moeda.  Eu quero gente do meu lado… Gente. Gente gentil. Gente gente. Eu não quero pessoas por conveniência. Nem amigos por convivência. Eu quero afeto. Afeto que não se afete à distância. Quero pessoas com corações bons, mais do que quero gente inteligente. Um cérebro para mim não vale mais que um coração…

            Descobri, quase ontem, que ser feliz é fácil. É viver um dia como se vive um afeto. Um dia na travessia de um dia de cada vez para sentir a espessura de um gesto, para atender ao timbre da voz de uma gentileza.

            Abraçar o mundo eu quero. Porque o mundo é o que eu sinto. E quero um confidente também. Não tem nada melhor do que uma gente. Nem números. Números não são gente. Nem dinheiro. Dinheiros não são gente. Afeto é gente.  E semente e vida e acolhimento e aconchego. Afeto é o ao redor aberto. Aberto à presença do amor.  Por que é tão bom se sentir amado? Por que é tão bom amar? A vida da vida só é uma vez. E uma vez é sempre sempre. Uma única vez.

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