Até se casarem, nunca sequer notara a brancura da mulher. Era leite. Puro leite. Em menos de três anos de casamento, ele já lhe notava as mudanças. Não foi pra isso que ele havia se casado. Queria uma mulher doce. Mas não. Ela parecia ter, a cada dia, uma gota a mais de limão a lhe manchar a brancura. Cansado do azedume, e aproveitando-se daquele leite coalhado, pôs a panela no fogo. Ali, despejou a mulher, os ovos, o açúcar. Mexeu bem, até levantar fervura. Apagou a chama. Depois do jantar: sobremesa de ambrosia. Nunca a comera tão doce.
Foto: David Cohen