De Profundis

De tudo na vida procurei mergulhos

e abismos

Faz-se em mim o desejo de ir ao fundo das coisas

como se a superfície não me fosse um apelo

e o onde o raso se esconde um punhado de areias

que não me interessasse o olhar

Vasculho a vida como se nela não houvesse portos

ou como se o risco fosse a própria causa da busca

Revelo-me a sede das imensidões

e o fundo das mágoas que não guardo

Se viver fosse apenas presságio, pressentimento ou defesa

então eu preferiria ser o peito aberto

no punho afiado de todo espinho,

a carne dilacerada na fresta

por onde no instante resta

o raio último de sol

Preciso do fundo para me entender

De altas densidades se faz minha caminhada

Não guardo rancores daqueles que apenas passaram como brisas

ou que mal toque se fizeram sobre a minha pele,

mas os que se inscreveram como tatuagens

guardo como se fossem lágrimas

de alegria e estupor

No amor às coisas que marcam profundamente

respira em mim a vida

de todas as pessoas

E no dia em que ela tiver de vir,

que a morte me venha

como o prazer dos olhos fechados

às paredes de nosso quarto

rendido ao amor

e ao sexo.

Crédito da Foto: Anna Wangler

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