Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the astra-sites domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /home/qjvbsec/www.domingasalvim.com/wp-includes/functions.php on line 6114

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Notice: A função _load_textdomain_just_in_time foi chamada incorretamente. O carregamento da tradução para o domínio astra foi ativado muito cedo. Isso geralmente é um indicador de que algum código no plugin ou tema está sendo executado muito cedo. As traduções devem ser carregadas na ação init ou mais tarde. Leia como Depurar o WordPress para mais informações. (Esta mensagem foi adicionada na versão 6.7.0.) in /home/qjvbsec/www.domingasalvim.com/wp-includes/functions.php on line 6114
Dois bichos – Domingas Alvim

Dois bichos

Quando soltaram os primeiros fogos a cachorra correu. Enfiou-se debaixo da cama. Chorou. Era um choro agonizante. Não entendia. Só queria fugir. Tremia. Fui ao banheiro. Ela veio atrás. Olhava pra mim e gemia, tremia. Seus pelos balançavam tamanha sua aflição. Ela não sabia. Eu sabia. Eu lhe pedia calma, eram apenas barulhos de explosões. Ela continuava sem saber. Não entendia porque era um bicho. E os bichos não sabem de nossas explicações. Só entendem o barulho. E o medo. E a cachorra, a cada foguete, entendia mais do medo do que eu lhe poderia explicar. Porque o sentimento é melhor sentido quando se sente. Quem não o sentiu não o conhece. Tampouco o amor. Sentimento de bicho parece o mesmo de gente. Mas é pior. Pior. O medo a invadia pelas orelhas. E a percorria fazendo sentido. E minhas explicações de gente – que também lhe adentravam – não lhe faziam sentido algum.  Explicações de gente não têm razões de bicho. Então, o que ela queria? Como eu poderia lhe falar? Qual seria a sua língua? Tanto tempo de convivência… Tanta nutrição de carinho… Nas horas em que eu acordava aos prantos, ela estava ali, aos meus pés, enchendo-me de ternura com suas lambidas. Será que ela entendia? Ela não sabia por que eu chorava, mas sabia. Sabia como me consolar. E agora eu ali, com tanta racionalidade e sem habilidade alguma para ser selvagem. Selvagem como a cachorra que sabia me consolar. Minha racionalidade era tanta que eu não sabia lambê-la. Adiantaria, se eu a lambesse como ela me lambia nas noites desoladas? Passei-lhe as mãos no corpo. Eram três corações batendo em um. Numa velocidade. Um sangue que dava voltas e voltas em milésimos de segundo naquele corpo animal. Eu era um bicho grande incapaz de consolá-la. Incapaz de lhe explicar o inofensivo daqueles estrondos. Passados os fogos, ela se aconchegou perto da minha cama. Era como se me dissesse: ‘Fique tranquila que o pior já passou.’ Como não pude respondê-la, fiz o que qualquer bicho faria: aconcheguei-a em meu silêncio. Naquela noite, dividimos a noite. Ela, dormindo com sua compreensão instintiva; Eu, acordada com meu racional bicho sem compreensão…

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