“E Se?”

“E se?” eu tivesse feito Direito em vez de Comunicação? “E se?” eu tivesse perdido a virgindade mais tarde? “E se?” eu tivesse aceitado aquele emprego? “E se?” eu tivesse feito aquele intercâmbio? “E se?” eu não tivesse mandado aquele amigo de infância para aquele lugar? “E se?” “E se?” “E se?”

Ao longo da vida passamos por tantos “E se?” que perdemos a conta. São “E se?” no passado e também no futuro: “E se?” eu ganhasse na mega-sena?, “E se?” eu conseguisse achar a pessoa da minha vida?, “E se?” eu fosse promovida àquele cargo?, “E se?”, “E se?”, “E se?”. Nossa, será mesmo que precisamos gastar nosso precioso tempo aqui embaixo com essa pergunta sem saída? “E se” não serve pra nada! Nos “E se?” da vida só cabem expectativas inúteis e tralhas irrealizadas. Eu, sinceramente, preciso de mais. Muito mais.

Viver de “E se?” é só viver de “E se?”. É se martirizar com o que poderia ter sido ou com o que poderia vir a ser, mas que não necessariamente é. Não temos como mudar o passado. Este jaz. Passou, enterrou, velou, foi, tchau. Passado é o que não é mais. É o que habita nossas velhas paredes com tons pastéis. Viver do “E se?” do passado é se acorrentar ao que não tem mais volta; é desejar dar um passo regresso no tempo e, pelo que eu saiba, isso funciona muito bem em filme, mas na vida real não tem Delorium, tem?!

Aqui não há “De volta para o futuro”, somente “De hoje ao amanhã”. E quer coisa melhor? Imagine um mundo que pudéssemos rebobinar? Coisa mais sem graça. Que riscos correríamos? Olha que monotonia: Você errou? Não tem problema, apaga e faz de novo. Ah, desse jeito é muito fácil. Saberíamos que poderíamos repetir e repetir nossos erros sem termos de lidar com as consequências. “Desculpa”, por exemplo, seria uma expressão inexistente. Nunca perderíamos quem amamos – isso seria bom -, entretanto nunca saberíamos o real valor das coisas. Tudo se tornaria banal, pois viria em quantas parcelas quiséssemos. E, como diz o ditado, tudo o que é demais

É, a vida é simples, mas nem tão simples assim.

E quanto aos que vivem dos “E se?” futuros, por favor, parem. É uma expectativa a mais e uma noite a menos de sono. Eu sei que é tentador. Você não imagina quantas noites eu já perdi nesses “E se?”. Mas é onírico, porque não alimenta a realidade. A não ser que levantemos da cama e que coloquemos nossos esqueletos para se mexer, esses “E se?” serão inertes e, portanto, lamentáveis.

Tentar viver de um “E se?” sem ação é que nem aquela historinha do cara que quer ganhar na loteria sem nunca ter jogado. Esse é o maior dono de “E se?” que eu conheço. Dorme e acorda se alimentando de “E se?”, sem saber que se nutre com calorias vazias. Até que, um dia, cai no poço da desnutrição e se espanta. Não sei se você notou, mas a vida anda e o tempo passa, com ou sem você, com ou sem “E se?”.

Então, da próxima vez que pensar “E se?” faça logo a tradução: troque o seu “E se?” por um “E cê”! (de “E você!”). “E cê” faz o que tem que fazer! “E cê” anda para frente! “E cê” se joga para a vida! E se a coisa tiver mesmo que ser, não esquenta: o seu “E se” será!

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