Experimentar faz parte do caminho

Sobre a experiência de nossos preconceitos

Ontem assisti a uma entrevista com o Pablo Vittar. E a pergunta que o cantor teve que responder foi se já tinha “desviado” rapazes do caminho hétero. Pablo, que fala o que vive, disse que, sim, que já algumas vezes fez o papel de “desvirginador” de homens que não estavam assim tão seguros da sua heterossexualidade. E, logo depois, começaram um debate sobre essa coisa de um homem não poder experimentar e uma mulher poder, digo, se uma menina decide que quer beijar a boca de outra para “ver qual é”, ninguém vai dizer que ela é gay. No máximo ela será considerada uma “descolada”, uma “aventureira” ou, forçando muito a barra, uma bissexual. Ao contrário, se um menino decide fazer o mesmo, esse “ver qual é” dele acaba se tornando quase que um selo de “conversão”. Um garoto que quer explorar a sua sexualidade na boca de outro, converte-se, como vejo muitos homens héteros falando, num homem homo. Nem sequer ele tem a oportunidade de levar um “bi” como adjetivo. E isso reflete em muito nossa postura preconceituosa, ainda intensamente impregnada de um machismo que machuca não só mulheres, mas homens também.

Esses dias eu li um texto muito bem escrito do Thiago da Silva , questionando o fato de que, nos homens, só existiria uma única zona erógena em todo o corpo: o pau. E o pior é que, na maioria das vezes, a sensação que eu tenho é a de que ele está certo. Já namorei caras que mal sabiam que, para além do pênis, havia todo um corpo cheio de territórios que poderiam funcionar como um parque de diversões. Sim, porque a gente sabe que, no mundo da fantasia, a montanha-russa pode ser a atração mais tentadora, mas ao lado dela existe o pula-pula, a roda-gigante, o carrinho de bate-bate, o trem fantasma, o Twister, o carrossel, o carrinho da pipoca, o da maçã-do-amor, o do algodão-doce e por aí vai. E voltando ao tema lá do começo do texto, sobre o experimentar masculino ser vedado a título de se manter o rótulo de “macho”, o mais interessante é perceber que não são só os homens que condenam o experimentar de um cara, mas também as mulheres.

Já vi muita amiga levantar dúvidas sobre a preferência sexual de um homem só porque soube que ele uma vez na vida já havia beijado outro cara.E não estou aqui, com esse texto, querendo dizer que todos devem querer experimentar o que não querem. Não. O que estou defendendo é que, para quem quiser, a experiência do experimentar não deveria ser tão atada. Sei lá. Acho que nossa sociedade cobra conformações demais. São caixas e mais caixas sobre caixas. Tudo tem que estar muito bem encaixado dentro dos limites. Fugiu um pouquinho, vira suruba, caos, série de ficção sem próxima temporada. Ah, gente, chega disso. Vamos deixar os rótulos se molharem e caírem de nós. Vamos deixar o amor florescer pra gente poder se conhecer melhor. Afinal, não existem desvios no caminho, mas apenas rotas de fuga que nascem para mostrar que todos os caminhos são possíveis na vida de nossas caminhadas.

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