Gangorra

     Você diz que sou louca, que me viro de um lado e sou uma, que te sorrio de canto e sou outra. Diz que vai mandar me internar e eu rio. Rio e te digo que pior do que eu só você. Você que escolhe me amar… Você que me ama loucamente, a mim, uma doida…

       Por que não me larga? Por que não me sai? Por que não aprende que é me deixando de lado que eu te vou atrás? Não sei domar esse jeito bandido. Meu jeito frustrado, inconstante e metido… e metido  a te querer quando acha que não te tem no total. Mas, no fundo, você sabe…  que eu te sigo devota! Te sigo quando você me ignora, te vejo quando seus olhos nem se lembram de quem eu sou.

       Não sei sossegar, não sei o que é paz. O tédio pra mim é a camisa-de-força da normalidade. E você insiste em me amar anormal. Eu não sou o comum, mas você me quer. Eu não sei da constância e você me ama constantemente. E eu te amo sempre por entre meus cumes e vales. E eu te amo sempre por entre minhas paralisias e ápices. Eu sou o desassossego que te sossega o vazio da vida. Eu sou o amor que te cega e te pega, armadilha bandida. E você é a minha branda e ardente paixão. Quando eu digo que sim, você não. Quando eu digo que não, você já nem me escuta mais…

        Você acha engraçada a angústia que sente na vertigem da minha gangorra. Mas não desce de mim. Não me larga, porque eu sou seu contra-peso. É tendo meu corpo do outro lado que você se mantém nas alturas. Eu sou a loucura tola que te espana o pó da realidade. E você é a realidade incomum que pacifica a minha insanidade. Eu sou louca e completamente louca por você. Eu sou minha e completamente sua por você. É que eu te tenho na terra, no chão, no duro, na cama. E você me tem entre nuvens e pássaros e esgotos e assombros de escuridão.

       Sou essa coisa incessante, esse game over sem fim. Sou essa coisa que ora pra que você não enjoe de mim… Sou essa necessidade de vida que você me ajuda a viver. Sou esse traço do escuro que sua luz faz parar de sofrer… E você? Ah, você é aquela porção de tudo o que é bom da poção que jogou em mim. Você é aquele feitiço sem maçã, aquele dia debaixo do cobertor, aquela magia de quem se pendura na vida pela primeira vez.

Foto: NEX6ki

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