Nas asas sem ar

Escrevo pra desabafar… É que ando com angústias de saudades… E dei pra pensar no que penso… E o que penso é que estou presa… Presa nesse cárcere de vida… É que a vida é viver e viver e viver; enquanto a morte, que é só morrer, é sem esforço, é deitada. A morte é deitada e a vida é de pé. É de pé fincado numa constância só inconstante pelo fim. De resto é a mesma sem resposta para as tantas de suas coisas. A vida é igual em todas as suas vidas. É igual até nos loucos e bichos que nem a sabem. É pulso, impulso. É andar pra frente no tempo, quando o tempo só nos anda pra trás. A morte é só o relógio da vida que parou. Parou. Cansou de rodar num eixo mesmo em todos os de vida. Porque o eixo da vida é sempre, é mesmo, ainda que, em cada segundo de cada um, ele se reserve aos seus ângulos rasos ou retos. E a submissão? E essa submissão ao desconhecido da vida? Por quê? Pra que eu aprendi tanto a viver? Pra que me escolar tanto numa ciência tão limitada pela finitude? Por que eu sou e por que não serei? Tudo é de um aprisionamento, afogamento. É de uma interrogação de quatro paredes, chão e teto baixo. Estreitamento. Encurralar. Não há portas, e ninguém pode afirmar que há janelas. Quem vive, vive. Quem morre, morre. Não é que termine ou recomece. É só que não é o que é sabido. E o que não nos dá certeza – como envelhecer é certo – nos aperta, nos rouba a liberdade. Pois nossa liberdade é de mentira. De mentira! Ninguém sabe morrer porque ninguém sabe por que vive de fato, de fatos e de mortes fatalidades. Ninguém sabe do além-mar, pois o além-mar não tem memória. Ninguém sabe morrer porque ninguém que morreu viveu no que se vive. No que vivemos. E ainda que viva, não o conhecerá, já que o que foi vivo não tem memórias que não se apaguem à luz da nova vida. Somos todos borboletas sem asas pousando no encantamento de flores artificiais. Ludibriados por um colorido de tintas que se limitam as cores limitadas da vida. Ah, se eu pudesse ver todas as cores da morte… Aí, talvez, eu pudesse ver todas as cores e preencher minha paleta… E, assim, pudesse viver como se deve… Num colorido completo de liberdade… Completo de vida, de morte, e de outras vidas… Livre de fartas perguntas vazias que só têm respostas no sem memória longe de mim…

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