Como mulher

– Amor, como é que se transa como mulher?, ele perguntou.

– Com o corpo sentindo.

– Então você só fecha os olhos e sente?

– Você fecha, abre, abre mais, fecha apertado, sente… É como se o tato se alargasse e você tivesse dedos pela pele do corpo. Usa todos os sentidos pra sentir o que te põe com tesão. Você se deixa e flutua por umas ondas de calor. Enlouquece sem se perder, mas se perde…

-Não imagina nada? Nenhuma cena? Não fantasia?

– Fantasiar pra quê? Fantasiar o quê? A fantasia quem veste é o corpo que vira a fantasia de alma… Você está e não está. Espera o ápice, mas sem esperá-lo de fato. Assim, é tomada de surpresa quando ele chega batendo forte à porta. Os olhos sentem, a boca sente. A língua sente o sabor de um corpo. Você já sentiu o sabor de um corpo? De uma pele suada, úmida de tesão? O nariz sente… Todos os sentidos têm tato, apalpam o cheiro de hormônio que sai do sexo. Porque do sexo sai a fragrância que não se encontra nos vidros. O corpo é o perfume. O ser é odor… E meu ouvido tateia o espaço como quem quer ver no escuro. Ouço o som que eriça os pêlos presos à pele. Não são os sons das palavras que querem fazer sentido no que não há… O que eu sinto é o som da cama que geme, da respiração ofegante, o idioma dos pulmões, o trançar dos membros, o espanar dos cabelos que vão grudando na cabeça que vai pingando de desejo… E a visão só vê o que vê. Porque abre os olhos, mas não descreve, não faz transcrição do concreto, não procura os sentidos… Apenas se abre pelas gretas dos olhos revirantes e se afunda nas cores e formas descontínuas que se formam nas piscadelas da escuridão…

– Amor, me ensina a ser mulher na cama?

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