A feinha

         Casou-se com a primeira. Linda. – Olha, você tem que mudar seus hábitos. Ela mudou. – Olha, você tem que mudar essa cor de cabelo. Ela mudou. – Olha, você tem que mudar esse pijama. Ela mudou. – Olha, você tem que mudar… Ele mudou.

            Casou-se com a segunda. Maravilhosa. – Olha você tem que mudar de emprego. Ela mudou. – Olha você tem que mudar de carro. Ela mudou. – Olha, você tem que mudar de perfume. Ela mudou. – Olha você tem que mudar… Ele mudou.

            Até que encontrou a feinha. No primeiro encontro, sugeriu-lhe um dentista. Poderia consertar aquele dente torto. – Meu dente torto? Tá louco?! Isso aqui é meu charme!, ela replicou. Aquele era o charme mais feio que ele já tinha visto. Preferiu continuar. Apesar de feinha, agradável companhia.

No segundo encontro, mais uma chance, quem sabe? Indicou-lhe um ótimo cabeleireiro. – Meu corte de cabelo? Tá louco?! Isso aqui é meu charme! Na cabeça dele, aquele era o charme mais feio que já tinha visto, depois do dentinho torto. Decidiu continuar. Apesar de feinha, de um dente torto e de um corte de cabelo demodê, agradável companhia.

E veio o quarto, o quinto, o décimo sexto encontro. E todas as sugestões dele, rebatidas:   -Essa coisinha aqui? Tá louco?! Isso aqui é meu charme!, replicava sempre. E continuou, tentando mudá-la. Poderia deixá-la linda e maravilhosa, se ela deixasse. Mas a feinha não deixava. E, por isso, ele persistia. Apesar de feinha, agradável companhia.

Meses de namoro depois, aprendeu a fingir que não se incomodava com os charmes da feinha. De tanto fingir, acabou não se incomodando. Completamente mudado, casou-se com a feinha – que nunca mudou nada.

Teve os filhos mais cheios de charme que um casamento feliz poderia lhe dar.

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