Se perder é preciso. GPS também. Só que não tanto.

Tecnologia é bom? É ótimo. Um aplicativo de mapas que nos leva aonde queremos é útil? Si, si. Mas e quando queremos aquilo que nem sabemos que queremos? Mas e quando queremos a descoberta do que ainda não conhecemos? Você precisa chegar a algum lugar. Vai, pega o celular, ativa o localizador e, pronto, segue aquela voz: vire à direita, vire à esquerda, em trezentos metros, em vinte e cinco, direita, esquerda, depois siga em frente, em frente, mais cento e cinquenta metros e, pronto, você chegou ao seu destino. Mas e todo aquele outro destino que ficou pelo caminho? Aquela outra trilha ignota, desconhecida, que anda pelos passos do inusitado, que se esconde debaixo das pontes do mistério? Aquele outro destino que estava destinado para você achar porque você se permitia se perder, porque você se deixava levar, entregue às descobertas: “olha, essa rua, que gracinha; olha, aquela esquina, nunca tinha reparado naquela pracinha, não sabia que aquele beco me traria aqui, olha, olha, olha!’. E são tantos olhares que nós não mais olhamos, porque sempre estamos buscando os caminhos prontos, os mapas já configurados para que não nos perdamos do trajeto, do tempo, para que andemos na linha mais reta e sem desvio das possibilidades. Mas e quanto aos caminhos que encontramos pelas ruas dos acasos? Encontrar novas saídas, achar novos passos a partir dos descuidos, dos lapsos? Isso não conta? Li um artigo falando sobre um livro, “A vocação de perder-se”, de Franco Michieli. Só pelo título já me encantei com a obra. Pois acredito nisso, nessa coisa meio descaminhada, no pedir informações no meio da estrada, no deixar que o passeio me surpreenda. Meio aquela coisa de ir viajar e deixar a viagem me levar, sem procurar descobrir cada detalhe antecipado do lugar, sem procurar viver o roteiro traçado pela fixidez sem espontaneidade dos mapas. GPS é bom? Claro. É preciso? Sim, muito, acha qualquer lugar com as coordenadas exatas. Mas não é preciso no sentido de necessário. Ao menos não sempre. Às vezes perder-se é mais preciso. Mais precioso. É quando nos abrimos aos atalhos, às rotas fora do planejado, que a magia nos abre suas portas. Estamos entregues às surpresas. E isso é bom. Pois nos faz entender que alguns mistérios tem o seu porquê. Eles sabem que, às vezes, a melhor maneira de fazer alguém se achar, é fazendo esse alguém se perder.

Crédito da foto: Natalie Rhea Riggs

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