Atrás do horizonte

O balão ia subindo enquanto a tarde caía. Atrás das montanhas, o horizonte, no vulto do sol, se escondendo na distância do que adormece atrás da curvatura do planeta. O espaço é uma visita às estrelas que nascem porque nasce, antes, a escuridão. Debaixo do céu, nós, deixando de ser de terra para sermos pássaro, nuvem, imensidão. As cores, guardando-se numa mistura de alaranjados, róseas, violetas, aumentavam ainda mais a paleta que diferencia aquilo que é vivo daquilo que está vivo. Um novo mundo de sensações amanhecia na experiência das alturas.  Como se novos olhos se abrissem dentro dos olhares antigos para verem montanhas se tornarem pequenos montes de areia,  casas se tornarem quadradinhos de amarelinha, pessoas se transformarem em pontos de poeira sendo levados pela brisa do destino. Em volta, outros balões, vencendo a gravidade de uma lei que nos mantém os passos rentes ao chão, forjavam em nós a sensação de serem gigantescos e surreais pingos de chuva caindo ao reverso. A novidade de ser carne e, ainda assim, ser o sopro no ventre de uma enorme bolha de sabão. Flutuar como se o ar não fosse uma instabilidade e os pés pudessem, feito os anjos, andar sobre as águas. E sentir que o coração é o momento de um pulso, vivo, em êxtase, uma bomba de calor atravessando o peito feito um gesto de lava que contém, em uma gota de vida, um oceano de infinito. Palavras são ausências nos segundos em que a beleza se deita na pureza de uma lágrima. A experiência de ter as pegadas de toda uma caminhada pisando um mesmo instante. Observar o fogo devorando o oxigênio dentro do corpo daquela medusa dos ares e perceber que um balão é algo que voa porque sufoca, ou que se faz o voo porque encontra suas asas nas terras do vazio, este espaço onde o ar não pesa, onde a vida é menos carne que espírito, onda a alma toca o território da inexistência e a experiência do viver se transforma, não em humanidade, mas em uma paisagem. Do divino.

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